NOTAS:
Irineu, bispo de Lião, da segunda geração após os apóstolos, discípulo de Policarpo (discípulo do próprio Apóstolo João), viveu no século II e afirmou diversas doutrinas marianas. Vejamos algumas delas:
A) Mãe de Deus
Embora Irineu não utilze o título grego “Theotókos” (“Portadora de Deus”), afirma a doutrina da maternidade divina, falando algo muito semelhante:
“A Virgem Maria, sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que portaria (portaret) Deus” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, V, 19, 1)
B) Mãe da Igreja
Devido ao paralelismo Maria-Eva, para Irineu o ventre de Maria “regenera os homens em Deus” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, IV, 33, 11; PG 7, 1080). Para Irineu, o cristão batizado, recebe um “novo nascimento” que acontece no “seio da Virgem Maria” (cf. Irineu de Lião, Contra as Heresias 4, 33, 4). Aí é deixado implícito a doutrina da maternidade espiritual de Maria.
C) Nova Eva
O século II é marcado pelo belíssimo paralelo entre Maria e Eva. Tudo começa com Justino de Roma, e logo depois ele é (muito) aperfeiçoado por Irineu que escreve:
“Assim é que a desobediência de Eva foi resgatada pela obediência de Maria. Com efeito, o nó que a virgem Eva atou com a incredulidade, Maria o desatou com a fé.” (Irineu de Lyon, Contra as Heresias 3,22,4).
“Da mesma forma que aquela (Eva) foi seduzida para desobedecer a Deus,esta (Maria) foi persuadida a obedecer a Deus, por ser ela, a Virgem Maria, a advogada de Eva. Assim, o gênero humano, submetido à morte por uma virgem, foi dela libertado por uma Virgem, tornando-se contrabalanceada a desobediência de uma virgem pela obediência de outra.” (Irineu de Lyon, Contra as Heresias 5,19).
“Foi por meio de uma virgem (=Eva) desobediente que o homem foi golpeado, caiu e morreu. Da mesma forma, é pela Virgem [Maria], obediente à Palavra de Deus, que o homem (…) encontrou de novo a vida (…) Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, a fim de que o mortal fosse absorvido e tragado pela imortalidade e Eva fosse reconstruída em Maria.
Deste modo, uma Virgem feita advogada de uma virgem, cancelou e anulou a desobediência de uma virgem com a sua obediência de virgem.” (Irineu de Lyon, Demonstração da Pregação Apostólica 33).
D) Co-Redentora da Humanidade
De acordo com Irineu, devido ao importantíssimo papel de cooperação de Maria no projeto da redenção, dando o seu Fiat, “tornou-se causa de salvação para si e para todo o gênero humano” (Irineu de Lião, Contra as Heresias 3, 22, 4;. PG 7, 959). Para ele, fomos libertados “também” por Maria, no sentido da enorme cooperação de Maria no plano da Redenção:
“Da mesma forma que aquela (Eva) foi seduzida para desobedecer a Deus,esta (Maria) foi persuadida a obedecer a Deus, por ser ela, a Virgem Maria, a advogada de Eva. Assim, o gênero humano, submetido à morte por uma virgem, foi dela libertado por uma Virgem, tornando-se contrabalanceada a desobediência de uma virgem pela obediência de outra.” (Irineu de Lião, Contra as Heresias V,19).
E) Mulher de Gênesis 3,15
Cipriano de Cartago e Irineu, afirmavam em alta voz que Jesus é quem esmaga a cabeça da Serpente. Por isso, criam que a “Mulher” do versículo 15 era Maria, pois ela era a mãe de Jesus. É por causa disso que Irineu liga Gn 3,15 com Gl 4,4, deixando implícito que a Mulher da carta (aos Gálatas) é a mesma Mulher de Gênesis 3,15; e ele deixa claro: O diabo não teria sido vencido com justiça se Jesus não tivesse nascido desta mulher, no caso Maria; já que foi por uma Mulher (Eva) que a humanidade caiu.
“Portanto, recapitulando todas as coisas, Cristo assumiu também a luta que travamos contra nosso inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, nos reduzira ao cativeiro, e calcou sua cabeça, como lemos no Gênesis: Deus disse à serpente:
“Porei inimizade entre ti e a mulher e entre tua descendência e a dela; esta te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”
(Gênesis 3,15).
Desde esse momento pois foi anunciado que esmagaria a cabeça da serpente aquele, semelhante a Adão, que devia nascer de Virgem. E é esta descendência de que fala o Apóstolo na carta aos Gálatas: “A lei foi estabelecida até que chegasse a descendência a quem a promessa fora feita” (Gálatas 3,19).
E ainda explica mais claramente na mesma carta ao dizer: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gálatas 4,4).
O inimigo não teria sido vencido com justiça se não tivesse nascido de mulher o homem que o venceu, pois fora por meio de mulher que ele dominara o homem , opondo-se a ele desde o princípio.
Por este motivo é que o próprio Senhor declara ser o Filho do homem, recapitulando em si o primeiro homem a partir do qual fora modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem nossa raça desceu para a morte, pela vitória de outro homem subimos novamente à vida, e, como a morte triunfara sobre nós por um homem, assim todos nós triunfamos da morte por um homem.
O Senhor não teria recapitulado em si a antiga e primeira inimizade contra a serpente e não teria cumprido a promessa do Criador e nem o seu mandamento se tivesse vindo de outro Pai. Mas, sendo um só e idêntico aquele que, no princípio, nos modelou e, no fim, enviou seu Filho, o Senhor cumpriu verdadeiramente o seu mandamento nascendo de mulher, aniquilando o nosso adversário e completando no homem a imagem e semelhança de Deus. (…) ” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, V, 21,1.)
Contra as Heresias, segundo Santo Irineu de Lião (180 d.C):
“Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus; e a vinda, o nascimento pela Virgem” (Contra as Heresias [I livro] 10,1).
“Cerinto [herege], asiático, ensina que o mundo não foi feito pelo primeiro Deus, mas por uma Potência distinta e bem afastada da Potência que está acima de todas as coisas, que não conhecia o Deus que está acima de tudo. Jesus, segundo Cerinto, não nasceu da Virgem, porque isto lhe parecia impossível” (Contra as Heresias [I livro] 26,1).
“Jesus Cristo, Filho de Deus, o qual, pela sua imensa caridade para com os homens, a obra por ele modelada, submeteu-se à concepção da Virgem para unir por seu meio o homem a Deus” (Contra as Heresias [III livro] 4,2).
“Era, ao mesmo tempo homem para poder ser tentado e Verbo para poder ser glorificado. A atividade do Verbo estava suspensa para que pudesse ser tentado, ultrajado, crucificado e morto; e o homem era absorvido quando o Verbo vencia, suportava o sofrimento, ressuscitava e era levado ao céu.
É, portanto, o Filho de Deus nosso Senhor, Verbo do Pai e ao mesmo tempo Filho do homem, que de Maria, nascida de criaturas humanas e ela própria criatura humana, teve nascimento humano, tornando-se Filho do homem.
Por isso, o próprio Senhor nos deu um sinal que se estende da mais profunda mansão dos mortos ao mais alto dos céus, sinal não pedido pelo homem, porque sequer poderia pensar que uma virgem, permanecendo virgem, pudesse conceber e dar à luz um filho, nem que este filho fosse o Deus conosco” (Contra as Heresias [III livro] 19,3).
“Foi, portanto, Deus que se fez homem, o próprio Senhor que nos salvou, ele próprio que nos deu o sinal da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,1).
“Único e idêntico é, pois, o Espírito de Deus que nos profetas anunciou as características da vinda do Senhor e que nos anciãos traduziu bem as coisas profetizadas. Foi ainda ele que, pelos apóstolos, anunciou ter chegado à plenitude dos tempos da adoção filial, que o Reino dos céus estava próximo e que se encontrava dentro dos homens que criam no Emanuel nascido da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,4).
“Da mesma forma, encontramos Maria, a Virgem obediente, que diz: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, e, em contraste, Eva, que desobedeceu quando ainda era virgem. Como esta, ainda virgem se bem que casada — no paraíso estavam nus e não se envergonhavam, porque, criados há pouco tempo ainda não pensavam em gerar filhos, sendo necessário que, primeiro, se tornassem adultos antes de se multiplicar —, pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da salvação.
É por isso que a Lei chama a que é noiva, se ainda virgem, de esposa daquele que a tomou por noiva, para indicar o influxo que se opera de Maria sobre Eva. Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois dos segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam os primeiros: acontece que o primeiro é desfeito pelo segundo e o segundo é desfeito em primeiro lugar.
Eis por que o Senhor dizia que os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros. E o profeta diz a mesma coisa: Em lugar dos pais nasceram filhos para ti. Com efeito, o Senhor, o primogênito dos mortos, reuniu no seu seio os patriarcas antigos e os regenerou para a vida de Deus, tornando-se ele próprio o primeiro dos viventes, ao passo que Adão fora o primeiro dos que morrem.
Eis por que Lucas, iniciando a genealogia a partir do Senhor subiu até Adão, porque não foram aqueles antepassados que lhe deram a vida, e sim foi ele que os fez renascer no evangelho da vida. Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé” (Contra as Heresias [III livro] 22,4).
“Quando o Senhor veio de modo visível ao que era seu, levado pela própria criação que ele sustenta, tomou sobre si, por sua obediência, no lenho da cruz, a desobediência cometida por meio do lenho. A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada a varão, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Virgem Maria, já desposada a varão. Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca de anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem; a desobediência de uma virgem foi contrabalançada pela obediência de uma virgem; mais, o pecado do primeiro homem foi curado pela correção de conduta do Primogênito e a prudência da serpente foi vencida pela simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos que nos sujeitavam à morte” (Contra as Heresias [V livro] 19,1)
Irineu, bispo de Lião, da segunda geração após os apóstolos, discípulo de Policarpo (discípulo do próprio Apóstolo João), viveu no século II e afirmou diversas doutrinas marianas. Vejamos algumas delas:
A) Mãe de Deus
Embora Irineu não utilze o título grego “Theotókos” (“Portadora de Deus”), afirma a doutrina da maternidade divina, falando algo muito semelhante:
“A Virgem Maria, sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que portaria (portaret) Deus” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, V, 19, 1)
B) Mãe da Igreja
Devido ao paralelismo Maria-Eva, para Irineu o ventre de Maria “regenera os homens em Deus” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, IV, 33, 11; PG 7, 1080). Para Irineu, o cristão batizado, recebe um “novo nascimento” que acontece no “seio da Virgem Maria” (cf. Irineu de Lião, Contra as Heresias 4, 33, 4). Aí é deixado implícito a doutrina da maternidade espiritual de Maria.
C) Nova Eva
O século II é marcado pelo belíssimo paralelo entre Maria e Eva. Tudo começa com Justino de Roma, e logo depois ele é (muito) aperfeiçoado por Irineu que escreve:
“Assim é que a desobediência de Eva foi resgatada pela obediência de Maria. Com efeito, o nó que a virgem Eva atou com a incredulidade, Maria o desatou com a fé.” (Irineu de Lyon, Contra as Heresias 3,22,4).
“Da mesma forma que aquela (Eva) foi seduzida para desobedecer a Deus,esta (Maria) foi persuadida a obedecer a Deus, por ser ela, a Virgem Maria, a advogada de Eva. Assim, o gênero humano, submetido à morte por uma virgem, foi dela libertado por uma Virgem, tornando-se contrabalanceada a desobediência de uma virgem pela obediência de outra.” (Irineu de Lyon, Contra as Heresias 5,19).
“Foi por meio de uma virgem (=Eva) desobediente que o homem foi golpeado, caiu e morreu. Da mesma forma, é pela Virgem [Maria], obediente à Palavra de Deus, que o homem (…) encontrou de novo a vida (…) Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, a fim de que o mortal fosse absorvido e tragado pela imortalidade e Eva fosse reconstruída em Maria.
Deste modo, uma Virgem feita advogada de uma virgem, cancelou e anulou a desobediência de uma virgem com a sua obediência de virgem.” (Irineu de Lyon, Demonstração da Pregação Apostólica 33).
D) Co-Redentora da Humanidade
De acordo com Irineu, devido ao importantíssimo papel de cooperação de Maria no projeto da redenção, dando o seu Fiat, “tornou-se causa de salvação para si e para todo o gênero humano” (Irineu de Lião, Contra as Heresias 3, 22, 4;. PG 7, 959). Para ele, fomos libertados “também” por Maria, no sentido da enorme cooperação de Maria no plano da Redenção:
“Da mesma forma que aquela (Eva) foi seduzida para desobedecer a Deus,esta (Maria) foi persuadida a obedecer a Deus, por ser ela, a Virgem Maria, a advogada de Eva. Assim, o gênero humano, submetido à morte por uma virgem, foi dela libertado por uma Virgem, tornando-se contrabalanceada a desobediência de uma virgem pela obediência de outra.” (Irineu de Lião, Contra as Heresias V,19).
E) Mulher de Gênesis 3,15
Cipriano de Cartago e Irineu, afirmavam em alta voz que Jesus é quem esmaga a cabeça da Serpente. Por isso, criam que a “Mulher” do versículo 15 era Maria, pois ela era a mãe de Jesus. É por causa disso que Irineu liga Gn 3,15 com Gl 4,4, deixando implícito que a Mulher da carta (aos Gálatas) é a mesma Mulher de Gênesis 3,15; e ele deixa claro: O diabo não teria sido vencido com justiça se Jesus não tivesse nascido desta mulher, no caso Maria; já que foi por uma Mulher (Eva) que a humanidade caiu.
“Portanto, recapitulando todas as coisas, Cristo assumiu também a luta que travamos contra nosso inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, nos reduzira ao cativeiro, e calcou sua cabeça, como lemos no Gênesis: Deus disse à serpente:
“Porei inimizade entre ti e a mulher e entre tua descendência e a dela; esta te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”
(Gênesis 3,15).
Desde esse momento pois foi anunciado que esmagaria a cabeça da serpente aquele, semelhante a Adão, que devia nascer de Virgem. E é esta descendência de que fala o Apóstolo na carta aos Gálatas: “A lei foi estabelecida até que chegasse a descendência a quem a promessa fora feita” (Gálatas 3,19).
E ainda explica mais claramente na mesma carta ao dizer: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gálatas 4,4).
O inimigo não teria sido vencido com justiça se não tivesse nascido de mulher o homem que o venceu, pois fora por meio de mulher que ele dominara o homem , opondo-se a ele desde o princípio.
Por este motivo é que o próprio Senhor declara ser o Filho do homem, recapitulando em si o primeiro homem a partir do qual fora modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem nossa raça desceu para a morte, pela vitória de outro homem subimos novamente à vida, e, como a morte triunfara sobre nós por um homem, assim todos nós triunfamos da morte por um homem.
O Senhor não teria recapitulado em si a antiga e primeira inimizade contra a serpente e não teria cumprido a promessa do Criador e nem o seu mandamento se tivesse vindo de outro Pai. Mas, sendo um só e idêntico aquele que, no princípio, nos modelou e, no fim, enviou seu Filho, o Senhor cumpriu verdadeiramente o seu mandamento nascendo de mulher, aniquilando o nosso adversário e completando no homem a imagem e semelhança de Deus. (…) ” (Irineu de Lião, Contra as Heresias, V, 21,1.)
Contra as Heresias, segundo Santo Irineu de Lião (180 d.C):
“Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus; e a vinda, o nascimento pela Virgem” (Contra as Heresias [I livro] 10,1).
“Cerinto [herege], asiático, ensina que o mundo não foi feito pelo primeiro Deus, mas por uma Potência distinta e bem afastada da Potência que está acima de todas as coisas, que não conhecia o Deus que está acima de tudo. Jesus, segundo Cerinto, não nasceu da Virgem, porque isto lhe parecia impossível” (Contra as Heresias [I livro] 26,1).
“Jesus Cristo, Filho de Deus, o qual, pela sua imensa caridade para com os homens, a obra por ele modelada, submeteu-se à concepção da Virgem para unir por seu meio o homem a Deus” (Contra as Heresias [III livro] 4,2).
“Era, ao mesmo tempo homem para poder ser tentado e Verbo para poder ser glorificado. A atividade do Verbo estava suspensa para que pudesse ser tentado, ultrajado, crucificado e morto; e o homem era absorvido quando o Verbo vencia, suportava o sofrimento, ressuscitava e era levado ao céu.
É, portanto, o Filho de Deus nosso Senhor, Verbo do Pai e ao mesmo tempo Filho do homem, que de Maria, nascida de criaturas humanas e ela própria criatura humana, teve nascimento humano, tornando-se Filho do homem.
Por isso, o próprio Senhor nos deu um sinal que se estende da mais profunda mansão dos mortos ao mais alto dos céus, sinal não pedido pelo homem, porque sequer poderia pensar que uma virgem, permanecendo virgem, pudesse conceber e dar à luz um filho, nem que este filho fosse o Deus conosco” (Contra as Heresias [III livro] 19,3).
“Foi, portanto, Deus que se fez homem, o próprio Senhor que nos salvou, ele próprio que nos deu o sinal da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,1).
“Único e idêntico é, pois, o Espírito de Deus que nos profetas anunciou as características da vinda do Senhor e que nos anciãos traduziu bem as coisas profetizadas. Foi ainda ele que, pelos apóstolos, anunciou ter chegado à plenitude dos tempos da adoção filial, que o Reino dos céus estava próximo e que se encontrava dentro dos homens que criam no Emanuel nascido da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,4).
“Da mesma forma, encontramos Maria, a Virgem obediente, que diz: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, e, em contraste, Eva, que desobedeceu quando ainda era virgem. Como esta, ainda virgem se bem que casada — no paraíso estavam nus e não se envergonhavam, porque, criados há pouco tempo ainda não pensavam em gerar filhos, sendo necessário que, primeiro, se tornassem adultos antes de se multiplicar —, pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da salvação.
É por isso que a Lei chama a que é noiva, se ainda virgem, de esposa daquele que a tomou por noiva, para indicar o influxo que se opera de Maria sobre Eva. Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois dos segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam os primeiros: acontece que o primeiro é desfeito pelo segundo e o segundo é desfeito em primeiro lugar.
Eis por que o Senhor dizia que os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros. E o profeta diz a mesma coisa: Em lugar dos pais nasceram filhos para ti. Com efeito, o Senhor, o primogênito dos mortos, reuniu no seu seio os patriarcas antigos e os regenerou para a vida de Deus, tornando-se ele próprio o primeiro dos viventes, ao passo que Adão fora o primeiro dos que morrem.
Eis por que Lucas, iniciando a genealogia a partir do Senhor subiu até Adão, porque não foram aqueles antepassados que lhe deram a vida, e sim foi ele que os fez renascer no evangelho da vida. Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé” (Contra as Heresias [III livro] 22,4).
“Quando o Senhor veio de modo visível ao que era seu, levado pela própria criação que ele sustenta, tomou sobre si, por sua obediência, no lenho da cruz, a desobediência cometida por meio do lenho. A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada a varão, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Virgem Maria, já desposada a varão. Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca de anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem; a desobediência de uma virgem foi contrabalançada pela obediência de uma virgem; mais, o pecado do primeiro homem foi curado pela correção de conduta do Primogênito e a prudência da serpente foi vencida pela simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos que nos sujeitavam à morte” (Contra as Heresias [V livro] 19,1)
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