O termo “até que” e a virgindade de Maria.

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Mateus afirma em seu Evangelho: “E não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mateus 1:22-25). Do termo “até que”, muitos protestantes afirmam que Maria perdeu a virgindade depois de dar a luz à Jesus. Mas todos sabemos que não é bem assim pois quando dizemos que uma companhia aérea não teve acidentes até hoje, não quer dizer que amanhã terá um acidente, mas o termo é usado para designar apenas o que se deu.

Também sabemos que Mateus tinha nessa passagem apenas o interesse de mostrar que Jesus nasceu de uma virgem, sem contato de José. Da mesma forma do exemplo apresentado anteriormente, muitas vezes tanto no hebraico quanto no grego das Sagradas Escrituras, os termo “até” e “até que” ocorrem apenas para designar apenas o que se deu (ou não se deu) no passado, sem indicação do que haveria de acontecer no futuro. Esse é um exemplo onde o contexto da frase não sustenta a tese de uma suposta descontinuidade.


1 Coríntios 15,25: “Porque é necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés.”– Um outro exemplo que o contexto apenas queria passar uma mensagem, mas se interpretarmos literalmente nos diz que o reino de Cristo teve fim. Entretanto, está dito na Bíblia que o reino de Cristo nunca terá fim (cf. Lucas 1,33).

Salmos 111,8: “O coração do justo está firme e não temerá até que veja confundidos os seus inimigos”- Ora, depois de ver seus ‘inimigos confundidos’, ele não ficará mais firme ou não temerá? Obviamente não.

Deuteronômio 7,24: “Entregará os seus reis nas tuas mãos, e tu apagarás os seus nomes de debaixo dos céus. Ninguém te poderá resistir, até que os tenhas derrotado.”

Mateus 28,20: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.”‘– Jesus nos abandonaria depois?

2 Samuel 6,23: “E Micol, filha de Saul, não teve mais filhos até o dia de sua morte.”– Depois ela teve filhos?

São Jerônimo explica:

“Já que provamos que ele seguiu o uso da Escritura neste caso, com relação à expressão “até que” será completamente refutado pela autoridade da mesma Escritura, pois várias vezes significa um certo tempo sem limitação, como quando Deus diz a certas pessoas pela boca do profeta: “Até à vossa velhice Eu sou o mesmo”; acaso Ele deixará de ser Deus após essas pessoas envelhecerem? E, no Evangelho, o Salvador diz aos Apóstolos: “Estarei convosco até a consumação do mundo”; será que quando chegar o fim dos tempos o Senhor abandonará Seus discípulos e estes, quando estiverem sentados sobre os doze tronos para julgar as doze tribos de Israel, estarão privados da companhia de seu Senhor?

Também Paulo, ao escrever aos Coríntios, declara: “[Cada um, porém, na sua ordem:] Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés”. Certos de que a passagem relata a natureza humana de Nosso Senhor, não temos como negar que as palavras são Daquele que sofreu [morte] na cruz e que mais tarde se sentou à direita [de Deus]. O que Ele quer demonstrar ao dizer que “é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés”? O Senhor reinará apenas até colocar todos os seus inimigos sob os seus pés e, depois disso, deixará de reinar? É óbvio que seu reino estará começando quando seus inimigos estiverem sob os seus pés.

Também Davi, na Quarta Canção da Ascensão, fala assim: “Olhai: assim como os olhos dos servos olha para a mão de seu mestre; assim como os olhos da moça olham para a mão de sua senhora; assim também os nossos olhos olham para o Senhor, nosso Deus, até que tenha misericórdia de nós”. Será então que o profeta, olhando para Deus com o intuito de obter misericórdia, irá desviar seu olhar para o chão assim que obtiver misericórdia? [Certamente que não,] ainda que ele, em algum lugar, diga: “Meus olhos quedam pela tua salvação e pela palavra da tua justiça”.

Eu poderia acrescentar inúmeras passagens como estas que, atestam esse uso, e cobriria com uma nuvem de provas a verbosidade do nosso contendente. Porém, acrescentarei mais algumas passagens e deixarei que o leitor descubra outras semelhantes por si mesmo.” (São Jerônimo, Da Perpétua Virgindade de Maria, 6)

Por fim, coloco aqui, o pensamento do protestante João Calvino, um dos pais da Reforma, escreve sobre este versículo:

“ A partir de Mt 1,25, Helvídio criou muita confusão na Igreja, porque dele deduz que Maria tinha permanecido virgem unicamente até o primeiro nascimento e depois teve outros filhos com seu marido. A perpétua virgindade de Maria foi definida vigorosa e perfeitamente por Jerônimo. É suficiente dizer que é insensato e falso deduzir dessas palavras o que se sucedeu depois do nascimento de Cristo. E chamado primogênito, não por outra razão, mas sim para que saibamos que ele nasceu da Virgem. Nesse texto se nega que José tivesse tido concurso marital com Maria antes de nascer com o menino; tudo está limitado àquele tempo. Mas nada se diz do que aconteceu depois” (João Calvino, Jean Calvino Opera 45,70).
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