Cirilo de Alexandria, nasceu na metrópole Egípcia chamada Alexandria entre 370 e 380 dC. São Cirilo foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa LeãoXIII, que atribuiu contemporaneamente o mesmo título também a outro importante representante da patrística grega, São Cirilo de Jerusalém. Revelam-se assim a atenção e o amor pelas tradições cristãs orientais daquele Papa, que em seguida desejou proclamar Doutor da Igreja também São João Damasceno, mostrando deste modo que tanto a tradição oriental como a ocidental exprimem a doutrina da única Igreja de Cristo.
Antes de ser ordenado presbítero, viveu vida monástica e após sua ordenação, seguiu seu tio, Teófilo, que era Bispo de Alexandria e administrou com mão firme e com prestígio a diocese Alexandrina. Com o falecimento de seu ti em 412, Cirilo foi eleito Bispo de Alexandria, governando com grande energia durante trinta e dois anos, visando sempre afirmar o seu primado em todo o Oriente, fortalecido inclusive pelos tradicionais vínculos com Roma. Lutou valorosamente contra as doutrinas de Nestório, que foi condenado como herege no Concílio de Éfeso (431) por defender que Maria não era mãe de Deus, mas apenas mãe de Jesus. Cirilo foi mais tarde definido “guardião da exactidão” que se deve entender como guardião da verdadeira fé e mesmo “selo dos Padres”, tendo ele escrito verdadeiras obras eruditas que visavam a defesa e explicação da fé católica. Nos anos seguintes, dedicou-se de todos os modos à defesa e ao esclarecimento da sua posição teológica até à sua morte, ocorrida no dia 27 de Junho de 444.
Ainda em referência à heresia nestoriana, também chamada nestorianismo, Cirilo escreve em 429, uma carta destinada aos monges e Bispo de todo o Egito (Alexandria estava no Egito) condenado a tese de Nestório. Estabelecem um discutição entre a Igreja Cristã no Egito, e o grupo nestoriano de Constantinopla (Turquia). As duas correntes apelam ao Papa Celestino I, que convocando um sínodo rejeitou a tese de Nestório em 430. Deu ordem para São Cirilo para que aconselhasse a Nestório a retirar suas teses num prazo de Dez dias, e Cirilo então enviou ao Patriarca de Constantinopla os doze anatematismo (anátema,= erro) da tese de Nestório. Com o intuito de levar ao fim este impasse, o Imperador Teodósio II ( amparado pelo cesaropapismo), convocou o Concílio Ecumênico de Éfeso, no qual São Cirilo de Alexandria foi seu representante. Presentes no referido Concílio 198 bispos, a heresia nestoriana foi novamente condenada, sendo Nestório excomungado. Registrou-se nesse episódio uma bela participação do povo de Deus, como no caso do arianismo. Os nestorianos, com mais de duzentos bispos, conventos, etc., propagaram-se durante 6 séculos, penetrando na Índia, e na China. Em 1916 haviam ainda uns 600 mil nestorianos caldeus, com a sede em Bagdad. Ultimamente estão se convertendo e voltando em massa à Igreja Católica.
Segue abaixo uma das epístolas de São Cirilo de Alexandria, na qual mostra-se ardente defensor da Divindade Materna de Maria. (Epist. 1: PG 77, 14-18.27-30) (Sec. V);
“Muito me admiro de que haja quem duvide se efetivamente a Virgem Santíssima deve ser chamada Mãe de Deus. Na verdade, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo é que a Virgem Santíssima, que O deu à luz, não há-de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, embora não usassem esta mesma expressão. Assim nos ensinaram também os santos Padres. Em particular Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, no livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, na terceira dissertação a cada passo dá à Santíssima Virgem o título de Mãe de Deus.
Sinto-me obrigado a citar aqui as suas próprias palavras, que são do teor seguinte: «A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem como finalidade e característica afirmar de Cristo, nosso Salvador, estas duas coisas: que é Deus e nunca deixou de o ser, uma vez que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós Se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus».
E continua assim pouco mais adiante: «Houve muitos que foram santos e livres de todo o pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; e também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria, ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus». Estas palavras são de um homem inteiramente digno de fé, a quem podemos seguir com toda a confiança, pois seria incapaz de pronunciar uma só palavra contrária à Escritura divina.
E de facto a Escritura, inspirada por Deus, afirma que o Verbo Se fez carne, isto é, Se uniu a uma carne dotada de uma alma racional. Por conseguinte, o Verbo de Deus assumiu a descendência de Abraão e, ao formar para Si um corpo vindo de uma mulher, fez-Se participante da carne e do sangue. Deste modo, já não é somente Deus, mas também homem semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa natureza.
Portanto o Emanuel, Deus-connosco, consta de duas realidades: divindade e humanidade. Mas é um só Senhor Jesus Cristo, um só verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, como aqueles que pela graça se tornam participantes da natureza divina; mas é verdadeiro Deus que, por causa da nossa salvação, Se fez visível em forma humana, como também testemunha São Paulo com estas palavras: Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sob o jugo da Lei e nos tornar seus filhos adotivos.”
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